UMA METÁFORA
- Shirlei Teixeira Proj. Ressignificar
- 19 de jun. de 2021
- 5 min de leitura
Atualizado: 11 de jul. de 2021
Plantando Sementes...
O ponteiro do relógio central já marcava 16h30, o céu estava
pintado com tonalidades de um rosa alaranjado. A brisa que
suavemente percorria pelo parque levava consigo as folhas secas
que caiam mansamente das árvores. O vento já não era tão morno,
pois o sol começava a dar seus primeiros sinais de despedida. Por
todo o parque era possível observar algumas crianças brincando
livremente, enquanto os adultos em constante vigilância
observavam com os olhos inquietos o vai e vem dos pequeninos.
Em um banco qualquer estava sentando um jovem que
aparentava ter seus 25 anos de idade, não era nem alto nem baixo,
estava vestido como um estudante, calça jeans, camisa de malha e
uma barba por fazer. Em seu colo repousava uma mochila, já
surrada, e suas mãos sustentavam um livro.
Os olhos do jovem estavam atentos e com ligeireza
percorriam as letras miúdas do exemplar, como se aplacassem uma
imensa ânsia de possuir todo o conhecimento contido na obra.
Um senhor de idade com barbas e cabelos brancos começou
a se aproximar a passos largos até o banco no qual o jovem estava
sentado, olhou para o garoto e perguntou se poderia sentar ali. Para
não ser indelicado o jovem consentiu com um gesto afirmativo.
Então, o senhor indagou:
__ Nossa! Como essas caminhadas me deixam cansado. Mas, como o
próprio médico me disse, é para minha saúde. E Deus me livre
desobedecer ao doutor.
O Jovem estava tão entretido com a leitura que apenas deu
um sorriso amarelo no canto direito da boca, numa tentativa de
parecer interessado no que o senhor dizia. Mas, percebendo isso o
idoso comentou:
__ Desculpe meu filho! Estou atrapalhando sua leitura. Deixe-me ir.
__ Não! O senhor não precisa ir embora, já estou de saída. E fechou
o livro.
Ao fechar o livro o velhinho reparou no título e viu estampado na
obra o seguinte título: “A Arte de Ser Feliz – Arthur Schopenhauer”. E
disse em seguida:
__ O que um garoto novo como você procura num livro que trata
sobre a felicidade?
__ Coisas!
__ Coisas?
__ É! Sei lá... Estou com tantas dúvidas.
__ Filho, você acha que ao término do livro irá encontrar respostas
para todas as suas dúvidas?
__ Acho que sim! Pelo menos eu tento mudar a minha vida sem
graça. Quem sabe eu não acho algo que me sirva.
O jovem de repente estava se levantando, quando o senhor o
segurou pelo braço e disse:
__ Fui professor de filosofia durante vários anos de minha vida. Hoje,
estou aposentado e posso lhe garantir que o que Schopenhauer
propõe é uma tentativa de nos livramos e evitarmos a dor e o
sofrimento como uma forma de vivermos felizes. Talvez suas
dúvidas sejam maiores do que esta proposta apresentada por Arthur
Schopenhauer.
Violentamente o garoto pega a mochila do seu colo, abre o
zíper e joga o livro bruscamente para dentro, fecha a mochila e diz:
__ Acho que nunca vou encontrar a felicidade, ela parece ser
inalcançável e eu estou cansado disso tudo.
O velho responde:
__ Como não? A felicidade está diante dos seus olhos!
__ Como assim, diante dos meus olhos?
__ Isso mesmo! Está vendo esta árvore em nossa frente? Ela é a
própria felicidade. Veja como as coisas são simples. Todos os
homens são parecidos com as árvores, mas eles estão cegos para as
coisas simples da vida. Só pensam em trabalhar, trabalhar e
trabalhar, com isso acabam deixando o essencial para depois.
Pense comigo, para que uma árvore cresça e dê bons frutos
precisamos fertilizar a terra, tirar as ervas daninhas, abrir pequenos
caminhos no solo e plantar as sementes, certo?
__ Certo!
__ Pois bem, quando foi a última vez que você adubou seu coração,
tirou as ervas daninhas e sentimentos negativos e abriu-se para que
novos sentimentos pudessem brotar?
O jovem ficou meio sem jeito. Abaixou a cabeça e decidiu
continuar escutando o que o senhor havia para lhe dizer.
__ Está percebendo como as árvores são muito parecidas conosco?
Mas, isso é só o começo. Para que aquela semente cresça, ela
precisa de água fresca, luz solar e vários nutrientes. Quando foi a
última vez que você se nutriu de bons conhecimentos, procurou se
aproximar da luz, do bom, do bem e do belo?
Dessa vez o nosso garoto ficou um pouco constrangido e
falou baixinho:
__ Não me lembro.
E o velhinho continuou:
__ As árvores vão crescendo à medida que vão recebendo mais luz,
nutrientes e água. Deste modo, chega um momento em que ela
começa a dar frutos. E os frutos serão reflexos daquilo que ela se
nutriu. Ou seja, se a terra for fértil e rica em nutrientes os frutos
serão belíssimos e doces, mas se a terra for seca, os frutos serão
pequenos e azedos.
Pense um pouco, e veja que os frutos são nossos atos, aquilo
que doamos para as pessoas. Se nossos pensamentos forem
positivos, estaremos refletindo bons comportamentos, mas se
nossos pensamentos forem negativos e tempestuosos, nossos atos e
comportamentos irão refletir isso. E ninguém irá se aproximar de
nós.
Quando uma árvore dá bons frutos ela deixa as sementes,
que serão replantadas e darão vida a outras árvores. Mas, quando
uma árvore não dá frutos ou os frutos são de péssima qualidade,
dificilmente uma nova árvore irá nascer, e se surgir, será fraca e
suscetível ao ataque de fungos e insetos.
Quais são os frutos que você está doando meu jovem, são
bons ou maus frutos? As coisas são mais simples do que parecem.
Não precisamos de tratados para encontrarmos as respostas para
nossas dúvidas.
Lembre-se que a felicidade está nos olhos de quem vê. As
respostas para suas dúvidas estão dentro de si mesmo. Não procure
fora. Você é o maior filósofo, psicólogo e pensador para o seu EU.
Não há ninguém que o conheça melhor do que você mesmo.
O jovem ficou cabisbaixo como se entendesse que o velhinho
estivesse acobertado de razão. Então o senhor disse:
__ Sabe por que eu decidi sentar neste mesmo banco que você?
__ Não! Por quê?
__ Eu e minha esposa
tínhamos o costume de
passear todos os fins de
tarde de mãos dadas, e
quando dávamos uma
volta inteira no parque,
sentávamos neste mesmo
banco e atentos
esperávamos que as
primeiras estrelas do céu
surgissem. Nunca deixamos
que a rotina diária
atrapalhasse nosso passeio
sagrado nos fins de tarde.
Mas, há cerca de um
ano ela faleceu. E eu
religiosamente venho lhe
fazer companhia neste
banquinho após minhas
caminhadas. Admiro o céu e vejo que ela agora faz parte de uma
daquelas estrelas que daqui a pouco vão surgir.
O jovem disse:
__ Sinto muito!
O senhor já com lágrimas no canto dos olhos disse:
__ A semente que nós plantamos deu um belo fruto, e ele se chama
AMOR. Fico feliz que ela tenha partido primeiro que eu, seria
insuportável para mim saber que ela iria sofrer com minha ausência.
Nosso sentimento, nossa felicidade e nossa comunhão foram
reflexos do que aprendemos com as árvores.
Para que pudéssemos entender um ao outro, tivemos que
olhar primeiro para dentro de nós. Tiramos nossas ervas daninhas e
assim começou a brotar o amor. Até hoje trago o sentimento de
felicidade comigo, e lhe digo, a felicidade está dentro de você, só
basta olhar para o lugar certo.
O jovem emocionado e convencido daquilo que o velhinho
havia lhe dito, apertou a mão dele e disse em seguida:
__ Muito obrigado! O senhor me mostrou o caminho para a
verdadeira felicidade, pois grande parte das respostas para nossas
dúvidas estão dentro de nós, agora entendi o PODER DO
AUTOCONHECIMENTO.
Depois ambos se abraçaram, o frio já começava a marcar
presença. O velhinho puxou um casaco, se agasalhou e ficou
olhando para o céu com um sorriso sereno. O jovem partiu com
passos firmes e com uma certeza estampada no rosto, de que ele
iria procurar a sua estrela.
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